Tive uma infância muito privilegiada. Não me lembro de ter tido que arrumar o quarto ou ajudar com tarefas de casa uma só vez. Passávamos todos os fins de semana no campo. Só não virei uma pessoa completamente esnobe porque na minha infância meus melhores amigos sempre foram os filhos dos caseiros. Quando você é criança você não percebe a diferença. Para mim tomar banho de bacia na casa do caseiro era tão divertido quanto brincar com meus brinquedos. Demorou para eu descobrir que meus pais tinham dinheiro. Acho que não é o caso dos filhos dos amigos dos meus pais. Parece que cresceram dentro de uma bolha e estão dentro dela até hoje.
As férias a gente passava no nordeste. Eu caçava vaga-lume no mato, roubava pitanga do vizinho e me banhava no Rio com as crianças da cidade.
Ia pra escola de bike
Apanhei um pouquinho, de leve.
Os almoços eram sempre em família. Todos os dias.
Minha mãe inventava as próprias histórias que me contava para dormir. Eram ótimas. Ela também brincava comigo, mas não me lembro de que.
Dos 12 anos em diante estudei em colégio interno na suíça. Isso também foi bom, porque no exterior eles não têm uma mentalidade tão classista quanto a nossa. Apesar de ser um colégio de crianças privilegiadas, a gente tinha que ser responsável, colocar e tirar a mesa, limpar, etc. Também fazíamos o que chamavam de "sacrifício" 1 vez por semana, quando em vez de jantar a gente tomava um caldinho com arroz no fundo e a escola doava o dinheiro economizado com a refeição para alguma caridade. Acho que se eu tivesse ficado no Brasil naquela fase da minha vida eu poderia ter me tornado uma pessoa bem diferente.
Se eu tiver filhos vou fazer algumas coisas iguais e outras diferentes