[ES] Seu rosto começou a rachar. Um pedaço caiu revelando um rosto diferente por baixo.

  • Esse dermatologista não sabe de nada, viu! É... Não sabe de absolutamente nada. Faz mais de semanas que minha mãe agenda consultas por lá, mas o que ele descobriu até hoje? Que pode ser um quadro raro de doença cutânea. Genial... Genial... – Dizia angustiado o jovem para sua amiga, Renata. Realmente, o que se passava na vida daquele jovem? Ele estava próximo de completar seus 16 anos e, de longe, o que ele mais temia era que fosse morrer desfigurado. A doença ainda era inicial, apenas algumas falhas no tecido capilar e algumas rachaduras próximas aos olhos. O nariz do garoto já parecia um peixe de tantas escamas, entretanto a vida do jovem seguia normalmente.
  • Eii! – Gritou Renata. – Thales! Vem aqui! Ontem à noite, enquanto conversávamos no Facebook, eu resolvi procurar um pouco sobre o seu caso... E encontrei alguns resultados. – Prosseguia ela sem ao menos aguardar um “oi” de Thales. O olhar preocupado e duvidoso era visível, deixava claro que ela não queria lhe contar nada sério naquele instante. – Achei centenas de casos parecidos, porém encontrei este blog aqui. Este sim me assustou, porque consegui ler e acompanhar a evolução do quadro do garoto. Eles foram até a biblioteca ali da escola, porque lá era deserto. Sempre fora. Acessaram o blog do jovem que se queixava dos seus problemas de pele e leram algumas páginas daquele site. Eles repararam na notável revolta do jovem escritor que se intitulava “touretteboy”, sua forma de escrita mudava visivelmente a cada mês que se passava, assim como a sua aparência. A última postagem naquele blog dizia “Eu não quero mais saber de vocês...”. Chocante. Principalmente depois que observaram o quanto a forma de escrever do touretteboy era brincalhona.
  • Será que ele mudou tanto assim devido a aparência? – Indagou Thales. Renata riu, disse que era óbvio que não, ainda brincou falando “Esse cara era meio estranho, convenhamos”. E foi ao banheiro. Enquanto isso Thales continuava a explorar o blog que haviam encontrado. Após pouco mais de um minuto, uma cara de susto espantou seu rosto de feições neutras, ele colocou a mão na cabeça e logo em seguida fez vômito. Desligou o computador e foi embora. O dia para ele foi longo, chegou em casa, mal cumprimentou os pais na mesa de jantar e já se trancafiou no quarto. Sentou-se brevemente na beirada da cama, passou as mãos no rosto como quem abraçasse a angústia, levantou-se e caminhou em direção ao guarda-roupa. Na porta central havia um grande espelho, ele despiu-se ali mesmo e aproximou-se daquela pessoa que aparecia refletida. Seus olhos castanhos agora estavam brevemente esverdeados, ele passou os dedos nas porções de pele que sobressaíam do nariz, removendo-as. Ali mesmo ele pode ver um nariz que não era mais o dele, ele acabara de perder aquele nariz fino e, de certa forma, delicado. Agora seu nariz era troncudo, com um breve osso proeminente em sua porção próxima aos olhos. Ele não gostou do que viu. Uma lágrima escorreu pelo canto dos seus olhos, sua mente havia apagado, ele não conseguia pensar em nada a não ser na surpresa que estava tendo. Limpou as lágrimas, removeu mais algumas porções de pele que se desprendiam das bochechas e sentou-se novamente na cama. Refletiu consigo mesmo por cerca de 10 minutos ou 1 hora. O tempo não importava mais. Ele entrou em um estado de dormência, pensava se todos iriam olhar para ele na rua, se reparariam naquele problema, se teriam nojo e até mesmo se a Renata continuaria tratando-o com naturalidade. Adormeceu. Acordou no outro dia, com a mãe aflita batendo na porta.
  • Filho! Filho! – Gritava ela. – Acorda, você passou o dia todo ontem aí, está acontecendo alguma coisa? Abre aqui, quero conversar.
  • Me dá um tempo, mãe, porra! – Respondeu rudemente, com uma voz grossa, de poucos amigos. Thales já havia passado por crises como esta antes, a psicóloga dele já havia alertado a mãe para retornar com os medicamentos caso estes comportamentos voltassem a aparecer. Entretanto era necessário dar tempo ao tempo. E foi isto que Célia, mãe de Thales, fez. Deixou o menino lá, consigo mesmo, o dia todo. O som da campainha ecoou pela casa, era Renata. Carlos, o pai de Thales, abriu a porta e lá estava ela, inquieta.
  • Cadê o Thales? Ele tá aí? – Começou ela a dizer sem nem ao menos esperar um “oi” do homem que aguardava petrificado ali na porta. – Hoje nem na escola ele foi. Ontem me deixou sozinha, so-zi-nha, lá na biblioteca. – Reclamou.
  • Calma, ele tá aqui... É uma daquelas crises, sabe? Entra, tem café, a Célia fez um bolo também. – Prosseguiu Carlos, com calma na voz. Enquanto eles discutiam na sala principal sobre os acontecimentos, Thales estava no quarto, ainda deitado, com milhões de pensamentos na cabeça. Ele lembrava da brincadeiras nas quais participou, das imbecilidades que já disse, de quando ficou bravo por ter ganhado um bolo de morango no aniversário de 15 anos, quando na verdade ele queria de chocolate. Lembrou da avó lhe perguntando o que ele queria ser quando crescesse, e a desconversa que procedeu o assunto, porque jamais havia parado para pensar seriamente sobre o tópico. Também lembrou-se do quanto era imparcial em discussões avulsas do cotidiano. Ele se bateu, de leve, mas com ódio. Ele era um panaca. Fraco, levantou-se e dirigiu-se até o espelho. Sua pele estava mais opaca do que nunca, no queixo ele podia ver uma pequena e nojenta proeminência de pele, logo ele decidiu puxá-la. Como se fosse as costas de um boia-fria descascando do sol, seu rosto foi se desfazendo, mas não era uma camada simples de pele. O que soltava de sua face era grosso, porém, felizmente, indolor. Por baixo da camada de pele ele pode ver uma pele menos enrugada, algumas pintas novas, a boca tornou-se carnuda, o nariz ganhou a forma final, seu olhos tomaram uma aparência mais analista. Um grito ecoou pelo quarto, acompanhado por um rápido soco no espelho.
  • Thales! – Gritou Renata, desesperada. Os pais do garoto levantaram-se do sofá, correram ao quarto e lá encontraram o jovem, caído no chão e com os pulsos sangrando. Renata logo pegou o celular e ligou para a emergência.
  • Calma, gente, estou bem. – Proferiu o garoto enquanto abria seus novos olhos, com uma voz mais grossa. – Mãe, pai, desculpa por ter brigado pelo bolo de morango, eu fui um retardado. Renata, me desculpa por ter rido da sua cara aquela vez que você disse dos seus problemas. Eu não sou mais eu. Fui embora da biblioteca porque acreditei ter o mesmo problema do garoto do blog, mas não... Eu não tenho nada. O garoto também não tinha nada, a questão foi ele não ter aceitado as mudanças igual eu aceitei. E logo o garoto apagou. Uma semana depois, Thales havia retornado a rotina com normalidade. Todos comentavam da nova aparência do garoto, alguns comentários positivos, outros negativos. Mas ele não se importava. Aprendeu a lidar com a situação como gente grande e já se preparava pra caso ele mudasse novamente...
  • Eu gostei, você ficou mais charmoso. Hoje prefiro conversar com você! – Sorriu Renata, ao sentar ao lado dele na mesa da merenda escolar.

Escrevi meio rápido esse texto aqui, tive que fazer uma pausa de umas 4 horas, depois retornei (o que deu uma quebrada na inspiração). Não fiquei nem 60% satisfeito, mas eu não queria perder o trabalho, hahaha. E quando fui enviar, me apareceu inspiração para escrever algo totalmente diferente (e que achei melhor), mas vou deixar pra depois. Espero que gostem! E espero que eu tenha acertado na formatação. :)

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