Tirei do trecho de uma aula de um psicologo canadense, sobre isso. Gostei e me ajudou, espero que possa ser útil pra vc tambem:

“Eu lido com muitas pessoas que sofrem de transtornos de ansiedade. E uma coisa sobre as pessoas que têm transtorno de ansiedade é que eles não são misteriosas pra mim. Não sinto dificuldade em entender porque as pessoas sofrem de transtornos de ansiedade, ou porque estão depressivas, ou porque tem problemas com abuso de substâncias. O mistério para mim sempre é porque as pessoas NÃO têm todas esses distúrbios ao mesmo tempo. Pois todo mundo tem razões para estar ansioso. Aliás, nós temos a maior de todas as razões para estarmos ansiosos, pois nós sabemos que somos vulneráveis, e nós sabemos que iremos morrer. Então como alguém pode não estar ansioso sob estas circunstâncias é um grande mistério. É um mistério massivo. E a mesma coisa se aplica com relação à depressão. E a mesma coisa se aplica, em certo grau, com relação à abuso de drogas e álcool. Pois, como eu disse, há muitas razões para afogar sua consciência no álcool. Com certeza. Podemos fazer uma conexão entre os itens mencionandos anteriormente, ansiedade e depressão, e os tipos de drogas que as pessoas estão mais propensas a ingerir. As substâncias químicas que retiram a margem afetiva da tragédia da vida.

Então, de volta ao tema do medo, Abraão é auto-consciente. Isto é o que este comentário diz (essa parte deve fazer alusão a algum trecho retirado da bíblia citado anteriormente na aula, entao não temos esse trecho aqui conosco, até o momento). Mas o fato é que: Abraão segue em frente APESAR de ele ser auto-consciente (ou seja, ele conhece o perigo). Ele continua se movendo para frente apesar disso. Essa é, de fato, a resposta apropriada ao estarmos cara-a-cara com a compreensão não-ingênua sobre o que constitui a vida. Pois se você é ingênuo, e você se move para frente, bem, o que você sabe? Não existe coragem na ingenuidade, pois você não sabe o que existe lá fora para te parar. Você não sabe quais perigos você pode encontrar. Mas estar consciente de qual é o seu problema, estar alerta existencialmente, estar inteiramente auto-consciente, significa que você está perfeitamente consciente de suas limitações e de como você pode ser ferido, e então tomar a decisão de continuar seguindo em frente rumo ao desconhecido, na terra do estrangeiro, mesmo assim. Eu diria que esté é um dos segredos para uma boa vida. Posso dizer isso sem medo de me contradizer, pois a literatura clínica nesse assunto é muito, muito, muito clara.

Clinicamente, o que você faz com as pessoas que tem medo (em certo grau com os deprimidos, e certamente com os ansiosos): você os faz identificar os objetos da ansiedade deles, em primeiro lugar. Em detalhes. De que você tem medo? O que pode acontecer? E a seguir, você decompõe isso em pequenos problemas, problemas administráveis hipotéticos. E então você faz a pessoa se expor ao problema de que ela tem medo. E o que acontece não é que ela vai ter menos medo. Não é isso o que vai acontecer. O que a literatura clínica indica que acontece é que elas se tornam mais corajosas. E não é a mesma coisa que ter menos medo, certo? Pois se você tiver menos medo, e pensar que o mundo não é tão perigoso como antes imaginava, não é o mesmo que ter coragem. A coragem é pensar: “bem, o mundo é tão perigoso quanto eu pensava, ou talvez seja até mais perigoso do que eu pensava, mas acontece que existe algo em mim que responde de forma a assumir isso como um desafio voluntário, que cresce, que ruge, que prospera, como consequecia disso”. E não há dúvida com relação a isso. Até os achados psicofisiológicos são claros. Se você impuser um fator estressante a dois grupos de pessoas, grupos A e B. No grupo A, o fator estressante é imposto involuntariamente. No grupo B, o fator estressante é escolhido voluntariamente. As pessoas do grupo B, aquelas que escolhem voluntariamente o fator estressante, adotam um sistema psicofisiologico completamente diferente para lidar com aquele fator. Elas usam o sistema que está associado com “aproximação e desafio”, e não o sistema de “agressividade defensiva e retirada”. E o sistema que está associado a desafios, está muito mais associado a emoções positivas, e bem menos associado com emoções negativas. E fica bem menos pesado para você, se torna mais fácil. Pois o sistema postural de defesa, esse sistema animal de presa (referente ao animal que é a presa de uma caçada), quando entra na jogada, transforma todos os outros sistemas ao redor. Sabe, a velocidade acelera, os freios estão acionados, você passa a usar agora as reservas que você poderia estar armazenando para o futuro, para que possa se preparar para a emergência atual.

Portanto, não existe nada de simples e trivial sobre a idéia de ser chamado a avançar diretamente para frente, rumo ao desconhecido e estranho. E existe uma aventura real que está associada a isso. Portanto é algo empolgante, e é parte da razão pela qual as pessoas viajam. E ver a si mesmo como o tipo de criatura que pode fazer isso, que DESEJA fazer isso habitualmente, é a tônica correta para (eu odeio essa palavra) sua auto-estima. Sabe. Porque a auto-estima não tem nada a ver com sentir-se bem sobre si mesmo. Como já mencionei. Não existe necessariamente uma razão para, a priori, você se sentir bem sobre si mesmo. Mas se você consegue enxergar a si mesmo agindo de forma corajosa e direta, e encarando o mundo, experienciando o mundo, tentando melhorar seu lote, assumindo riscos de forma não-ingênua, bem, então você tem algo que pode conforta-lo à noite quando você estiver divagando sobre qual a droga do objetivo de sua vida fútil e miserável. Isso é necessário porque frequentemente é o caso que você acorde às 4h da madrugada, quando as coisas não estão indo tão bem, e se pergunte qual o objetivo de sua vida fútil e miserável. Você precisa de algo real para confrontar essa pergunta. Não da pra ser apenas racionalizações sobre como você é uma pessoa valiosa entre outras. Mesmo que isso seja verdade, não é bom o bastante. Você precisa de algo que seja mais realístico para confrontar essa pergunta. Observar coragem em si mesmo é definitivamente algo que pode te ajudar a dormir tranquilamente, nos momentos em que as coisas estão um pouco desestabilizadas ao seu redor”.