Tenho 19 anos e passei boa parte desse tempo procrastinando na tela do computador. Tenho algumas pequenas experiências pra compartilhar, coisas que eu gostaria de saber se estivesse no seu lugar e algumas suposições do porquê seu filho está agindo desse jeito. São apenas opiniões, afinal não sou um psicólogo.. mas espero que ajude:
A obsessão por jogos [normalmente online] costuma vir por alguma escassez na vida social. Seu filho não deve falar sobre essas coisas, mas é bem possível que ele não se dê/dava muito bem com a rotina escolar; passar 6 horas do dia aprendendo sobre assuntos que você não se importa enquanto observa outros adolescentes sendo melhores que você e tendo vidas sociais não faz bem mentalmente a longo prazo se você não tem muita motivação pra seguir em frente, e ele desconta isso tudo nos jogos. Vencer um round no Counter Strike contra 5 e ser elogiado pelo seu time te faz sentir "importante", algo que pode te impactar muito se você já está com a auto estima baixa por se sentir um inútil após tirar uma nota baixa ou ser rejeitado em um grupo, e ele ter repetido de ano com certeza foi um agravante pra tudo isso. Ser distanciado de sua classe inteira e ter que refazer todo o conteúdo de um ano inteiro é algo que eu nunca experienciei, mas tenho certeza que me abalaria absurdamente e me deixaria completamente desmotivado.. Não querendo fazer ele de coitado, mas tirar a internet dele logo após esse acontecimento não é uma decisão que eu tomaria, provavelmente era um dos únicos "escapes" dele naquela situação.
Quando eu chegava em casa e ligava meu computador pra jogar, tudo que era externo a isso eu inconscientemente considerava como intruso: Eu ficava bravo pelo simples fato da minha mãe abrir a porta no meio da partida pra me perguntar se eu estava com fome, eu simplesmente queria ficar imerso naquele mundo e esquecer todo o resto. Eu passava pela minha mãe como se fosse uma pessoa invisível, mas não era como se eu não amasse ela, eu simplesmente a ignorava sem um pensamento por trás e esquecia que ela existia, não me passava pela cabeça que eu poderia estar magoando ela de alguma forma.
Não sei como você educou seu filho, mas desconfio que tenha mimado um pouco ele. Não te culpo, minha mãe esteve grávida de gêmeos e perdeu com 6 meses de gestação, eu nasci 2 anos após esse acontecimento e por causa disso minha mãe nunca exigiu nada de mim, só queria que eu estivesse vivo, então acabei sendo um pouco mimado por ela. O problema é que eu também tive um pai ausente, e isso me deixou meio sem rumo, ninguém checava minha notas na escola e me dava uma lição de moral se eu tirasse uma nota baixa [é uma milagre eu não ter virado um repetente], e minhas habilidades sociais eram praticamente inexistentes porque eu não tinha uma figura paterna pra servir de exemplo e me dar conselhos, eu fui deixado pra ser criado e educado exclusivamente pela escola e tirar todos meus ensinamentos de lá, e esse é um grande defeito repetido por boa parte dos pais nesse século, a escola não te ensina a viver a vida de verdade. Tudo isso corroborou pra minha falta de motivação na escola, que acabou virando uma bola de neve e me levou a uma situação parecida com a do seu filho.
Bom, na minha mente esse textão tava bem melhor, acabou sendo mais um desabafo do que um conselho. Enfim, o que eu quero dizer no final das contas é que ele não se importa com a sua presença porque ele simplesmente se acostumou com ela; alguns fatores (como a repetição do ano letivo e o consequente afastamento dos amigos de classe) o levaram a desmotivação, ele não acha que você pode ajuda-lo de alguma maneira e por isso canaliza a atenção dele pra outras coisas. Você precisa leva-lo pra uma conversa séria e sincera (sem lições de moral) pra lembra-lo que você está do lado dele e que está triste com a falta de importância que ele dá pra sua presença. Ele provavelmente não vai te levar muito a sério no começo, mas se insistir nessa abordagem sincera é provável que ele comece a se tocar que está sendo ingrato alguma hora. Não espere que ele vá se abrir totalmente pra você e nem que ele vire o melhor filho do mundo do dia pra noite, você só precisa garantir que esse comportamento não seja normalizado para assegurar que isso seja uma fase ao invés de uma rotina que irá se repetir ao longo dos anos.
Espero que tenha feito sentido