Eu nem falei no Fed nem nada, pois não?
Falaste, mas disseste algo tão fora da realidade que eu decidi nem sequer comentar, mas já que insistes. Sim, de facto o Fed, tal como outros bancos centrais tentaram desesperadamente manter a economia mundial à tona. E fizeram isso injectando dinheiro nos mercados. Até aqui tens razão, quanto à parte de isso ter resolvido o problema é que estás completamente enganado.
Os bancos estavam tão assustados com o que se estava a passar que em vez de introduzirem o dinheiro na economia através de empréstimos às empresas, etc. eles estavam a ficar com o dinheiro todo para eles próprios na esperança de conseguirem aguentar o barco. Como podes tu mesmo confirmar. E mesmos os investidores quase que abandonaram por completo os mercados preferindo investimentos mais seguros, como por exemplo o ouro.
Os outros países estavam na bancarrota? À excepção da Grécia, não estavam, só Portugal é que estava.
Portugal estava na bancarrota porque estava efectivamente impedido de se financiar no mercado normal. Quando te pedem 7% de juros por um empréstimo, és obrigado a dizer que não mesmo quando precisas do dinheiro. E o Sócrates foi adiando, adiando, a ver se a coisa passava. E claro, só pediu ajuda quando ficou claro que Portugal não ia voltar a ter acesso aos mercados e já não tinha dinheiro para fazer face às despesas.
Isto não aconteceu porque o Sócrates tinha gasto o dinheiro todo como queres afirmar. Aconteceu porque o Sócrates deixou de ter quem emprestasse dinheiro ao governo Português a taxas comportáveis. São duas situações bem diferentes. Se o Sócrates tivesse pedido ajuda mais cedo, como devia, não tinhas chegado a esse ponto.
A questão da pressão é relevante porque o meu argumento é precisamente o de que essa pressão, esses juros elevados que nos levaram a ter que pedir ajuda aconteceram porque os mercados não estavam a agir racionalmente. E uma óptima maneira de perceberes isso é comparares a nossa situação com outros países semelhantes, como por exemplo a Itália, que como nós tinha um crescimento anémico nos anos anteriores à crise e uma dívida maior do que a nossa em percentagem do PIB, e no entanto os mercados não lhes exigiam 7% de juros. Consegues justificar a discrepância?
A razão é simples. Era a Itália. A quarta maior economia da Europa, valia 10 vezes mais do que nós. A UE nunca iria deixar a Itália cair porque isso seria o fim da economia europeia durante décadas... já Portugal... não havia garantias. E sem garantias, o risco aumenta, e os juros sobem. Só para que saibas, ainda hoje, a dívida da Itália em percentagem do PIB é maior do que a nossa.
Mais uma vez a deturpar factos. O FMI nunca disse que não precisavas de austeridade. (...) Só muita desonestidade intelectual para que quando admites erros na aplicação de medidas isso implicar que nunca deverias ter aplicado medidas.
E eu alguma vez disse que não era preciso? Onde é que eu escrevi que não era preciso austeridade e podíamos continuar a gastar livremente? Era obvio que a nossa situação era a médio-longo insustentável e que teríamos que reverter o curso, nunca neguei isso, mas não é isso que estamos a discutir.
O que estamos a discutir é se, naquela altura, e dadas as condições e a situação em que Portugal se encontrava, se a subida dos juros era justificada ou não, se o risco que os mercados assumiam para Portugal estavam a ser bem calculados ou não, e se fomos obrigados a ter que pedir ajuda porque era realmente preciso ou não. Eu acho que não.
E a culpa disso é de quem? Achas que é da Direita?
Então a dívida das PPPs é da culpa do Sócrates e o negócio da TAP que envolvia precisamente a mesma filosofia, com o Estado a ter que ficar fiador de 250 milhões de euros, e aí a culpa já não é do Passos? E acusas-me a mim de desonestidade intelectual?