O Jantar, Debret (1839) e a Capa do Le Monde Diplomatique Brasil deste mês

Na minha opinião o editorial apresentou uma análise bem corajosa, mas extremamente lúcida.

O Le Monde não dá nem um fio de esperança à elite nacional, vítimada pela polarização na condução da política econômica em favor do capital externo e do rentismo. A elite nacional estaria unida em defesa de migalhas do controle político-econômico, numa batalha inglória, fadada à derrota.

O Le Monde enfatiza que nos dias atuais não é aceitável que o Brasil contraponha-se aos interesses do mercado financeiro internacional ou das transnacionais, que realizam investimentos diretos. Há uma crise na qual as decisões são em detrimento dos interesses nacionais, do mercado produtivo e consquentemente do bem-estar social. Sendo bem simplista eu diria que basta olhar para os ajustes econômicos feitos desde o início do ano e observar o aumento do desemprego ou a queda nas vendas do varejo. Quem sofre com a austeridade é o povo, quem lucra são os especuladores.

Eu considerei essa capa bem coerente ao editorial, em retratar mais um momento de limitação do papel econômico e do padrão de vida da elite nacional. Resultado de outro conflito entre a oligarquia nacional e o capital estrangeiro. Ora, o fim das regálias fornecidas pela escravidão, ora o fim do conforto em face à redução de poder da elite brasileira.

A atualização da pintura aos dias atuais remete ao fim do padrão de consumo que a elite tupiniquim tem gozado. As mudanças no papel sócio-econômico da elite e as medidas de austeridade econômica, sem dúvidas afetam o restante da população.

Não acredito que houve a intenção de minimizar o descontentamento popular no editorial, ou mesmo dizer que os protestos são limitados à elite. O foco do editorial foi de demonstrar que vivemos uma crise que tem raízes mais complexas, ela é consequência da política-economica internacional que os governos brasileiros têm adotado. A desindustrialização nacional e o limitado papel de fornecedor de commodities no comércio internacional, são resultados da internacionalização da economia brasileira. A condução da política econômica, governo após governo, visando apenas a manutenção dos investimentos externos, fossem a longo prazo ou de fluxo rápido, tornou as decisões político-econômicas propriedade de uma nova elite, reduzindo o poder da elite nacional. As linhas finais do editorial:

O ajuste imposto pelo governo ao povo brasileiro é expressão desse poder do rentismo, e o prognóstico quanto a seus efeitos na economia e na sociedade é desastroso. A Grécia que o diga.

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