É complicado definir em qual espectro eu me encaixaria, mas como eu estudo em uma universidade federal, sei que de acordo com meus colegas eu seria considerado "reaça" hoje em dia, mas nem sempre foi assim.

Eu cresci no interior e estudei em um colégio particular, com bolsa, acho que até uns 12-13 anos eu nunca pensei muito nisso, e não fui forçado pra nenhum lado pela minha família, apesar de até mais ou menos essa idade eu me considerar católico, frequentar igreja e grupos de jovens, mas tudo por livre e espontânea vontade (tanto é que mais ou menos nessa idade eu enjoei e parei de frequentar).

Mais pro final do ensino médio as coisas começaram a mudar, eu comecei inconscientemente a largar mão da religião e formar algumas idéias, eu acho que nessa idade eu já era esclarecido em algumas questões sociais, não tinha problemas com gays (o que era comum pra alguns amigos, principalmente naquela idade, e alguns familiares) e em geral era a favor de cotas sociais, raciais e afins.

Após terminar o ensino médio eu saí da casa dos meus pais e fui morar em outra cidade maior, pois queria fazer um bom cursinho pré-vestibular. Esse ano foi um dos mais marcantes pq foi quando a adolescência realmente "bateu" e meu modo de pensar se transformou e se aprimorou bastante, principalmente devido a alguns problemas pessoais que eu enfrentei na época. Essa época coincidiu com a época das eleições, as discussões sobre política (Aécio x Dilma) estavam em alta, e eu percebia que a maioria dos meus colegas eram conservadores burrões (eu do alto dos meus 16 anos achando isso). Então eu passei a ler mais sobre (na internet), e percebi que me alinhava mais com valores de esquerda, e que eles sempre tinham parecido "o lado certo da história" pra mim, principalmente no quesito social (de economia eu não entendia muito, principalmente naquela época). Então do "lado Aécio" eu já desconfiava que ou era desinformado ou burro mesmo, dificilmente conseguia ver algo de bom ou inteligente vindo daquela turma, e com alguma frequência eu discutia com alguns reaças amigos meus e também a passei a questionar bastante os religiosos (virei praticamente ateu nesse meio-tempo).

Dilma se elegeu, direita querendo impeachment, esquerda rindo atoa, tudo beleza tudo maravilha, mas tinha algo que começava a me irritar, estava tudo muito certo, muito unânime pro "time" que eu tava torcendo, e eu sempre gostei de bancar o advogado então isso foi uma pedrinha no meu sapato, eu tinha virado um cético, cínico e desgraçado da cabeça, graças a deus.

Fast forward para o início do outro ano, consegui entrar em uma federal, não era a que eu queria (mais perto de casa, no interior), porque era na capital, que eu sempre tive medo/nojo. Mas como vinha muito a calhar, e era uma universidade muito boa, naturalmente eu me matriculei e iniciei o curso. Mais uma mudança, de cidade e de pensamento. Alguma coisa aconteceu no início desse ano, provavelmente tenha a ver com os ambientes que comecei a frequentar na internet, reddit incluído, que começou a me influenciar e começar a notar coisas ruins sobre aspectos que eu supostamente deveria "suportar" politicamente. Meu curso sendo de humanas, eu comecei a ter que lidar com esses argumentos, muitos deles pobríssimos, por parte dos colegas e de alguns professores. Isso começou a me irritar demais, a unanimidade de pensamento entre meus colegas, toda a baboseira que só quem convive com o academicismo e a esquerda unversitária todo santo dia sabe como é. A nova onda do feminismo e do Politicamente Correto™ nas redes sociais começou a me deixar cada vez mais enojado com tudo que eu antes concordava, e combinado aos novos ambientes na internet e maior interesse nos assuntos culminou praticamente numa reviravolta das minhas posições políticas, principalmente sociais.

Hoje em dia eu vivo calado nas aulas, pois discordo de quase tudo que os colegas falam (e meu deus como eles falam) e sinto vergonha alheia da maioria dos "debates" que acontecem na aula