[Sério]Doenças mentais: Partilhem as vossas experiências (pessoais, de algum membro da família, de amigos, etc.)

Aos 16 anos comecei a ter problemas de sono, não problemas de sono simples mas problemas de sono fodidos que fizeram com que eu começasse a faltar às aulas. Os professores pensavam que eu era baldas, que não queria saber da escola mas a verdade é que eu sofria todos os dias para conseguir dormir e quando conseguia lá para as 4 da manhã, não queria acordar quando tinha de acordar porque o sono tinha mais valor do que qualquer outra coisa. Estava sempre ansioso, sem nenhuma razão aparente.

Para tornar as coisas piores, a minha situação familiar não era das melhores: Discussões atrás de discussões por tudo e por nada, cada vez estavam piores e havia um fim à vista, todos os dias, durante meses. Chegou a um ponto em que entrei em colapso e tentei o suicídio aos 17 anos. Não foi uma tentativa de suicídio para chamar a atenção, misturei 300mg de fenobarbital com meia garrafa de whiskey para ter uma paragem respiratória mas acabei por não ter os efeitos desejados e ainda fiquei mais agitado do que pensava. Fui parar ao hospital, fizeram-me uma lavagem ao estômago e depois fui encaminhado para ala psiquiátrica do Hospital S. João onde fui diagnosticado com transtorno de personalidade borderline.

Eu já suspeitava e fazia sentido, quase todos os sintomas encaixavam comigo excepto a parte da auto-mutilação. Mas de resto: Humor instável, impulsividade, sentimentos crónicos de vazio, comportamento conflituoso, abuso de drogas e de álcool, relações instáveis. Sim, sou eu.

Passei por vários psiquiatras e psicólogos, usei vários medicamentos, li, informei-me sobre o assunto, fiz tudo o que podia para resolver o problema mas nada parecia resolver, não parecia existir uma solução. Sofri muito para dentro, as pessoas que não sofrem disto não compreendem aquilo pelo que nós passamos, não sabem o quão difícil é; e eu tento afastar-me de quem sabe o que é porque se uma pessoa instável sozinha já é difícil, duas juntas é como pólvora e um isqueiro. E quem sofre disso geralmente está demasiado ocupado com os seus próprios problemas para darem atenção ao meu, portanto nem vale a pena.

Já tentei explicar a algumas pessoas o que tinha mas ninguém percebeu e minha mãe até hoje pensa que eu sou bipolar. Hoje em dia isto é um segredo meu, ninguém tem de saber. As pessoas já suspeitam que eu não sou normal, não quero que tenham a confirmação de que eu sou oficialmente não-normal e também não quero ser tratado de forma diferente. Não há razões para contar a ninguém também.

Felizmente há pouco encontrei um bom psicólogo no ano passado, e após 14 sessões ele disse que eu já não correspondia aos critérios do transtorno mas mesmo assim sinto que ainda não estou totalmente bom mas estou melhor. Não tomo calmantes ou antidepressivos, substituí-os pela meditação e pelo desporto, que são muito mais eficazes.

Às vezes olho para as pessoas normais com um pouco de inveja, gostava de ser como elas, gostava que a minha vida fosse tão fácil quanto a delas. O mais chato é nunca saber como é que vai ser o dia de amanhã, é difícil fazer planos porque hoje sei o que quero, amanhã já não sei e depois de amanhã já quero outra coisa. Sou um António Variações (que pelas letras, não duvido nada que ele tenha sofrido do mesmo) mas tento fazer o melhor, vivo um dia de cada vez, aproveito os bons dias e aguento com os maus e apesar duma coisa ser indissociável da outra, tento usar a razão para controlar as emoções fortes que vão cá dentro.

E é isso... já escrevi demais. Deixo-vos com um fun fact: Sexo com um borderliner é uma coisa do outro mundo, enquanto que não somos muito bons a entender situações sociais, geralmente temos uma capacidade extraordinária para ler emoções nas pessoas no momento e perceber o que é que devemos fazer para produzir prazer no parceiro. Torna-se viciante.

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