Nasci em 98 e vivi grande parte da minha vida no interior do Pará, não tive amigos, nem irmãos, era isolado na escola, tanto que a diretora achava que eu tinha autismo.
Minha mãe não podia comprar nada moderno durante os anos 2000, então joguei muito nintendinho no Dynavision (jogos tipo Lunar Ball, Adventure Island e uns jogos da Namco dos anos 80 fizeram parte), passava grande parte assistindo televisão, o SBT todo dos anos 2000 representava minha infância (Festolândia, Bom Dia e Cia com a Jackeline Petkovic e Chaves). Brinquedos? Só aqueles das lojas de 1,99. Videogame portátil era aquele de 100 jogos em 1 (que só tinha Tetris e um de corrida) ou um Tamagochi. Teve uma época que eu só brincava com caixas, de sapatos e de remédios, montava uma cidade com elas e ficava criando histórias.
Eu tinha uma fita VHS da Eliana que lembro inteira até hoje, eventualmente minha mãe comprou um DVD e achava muito foda. Vi todos os filmes da Pixar ali (piratas, é claro, 3 DVDs por 10), amava/amo Os Incríveis.
As vezes eu ia no fliperama que era uns PS2 por 1 real a hora, jogava muito GTA San Andreas e Guitar Hero ali. Tomava muito banho no rio, igarapés e tomava muito chop (que é a maneira como a gente chama o sacolé).
Eu assistia TV e ficava invejando a vida do sul/sudeste que eu via nas novelas, coisas como cinema, museus, os fast-foods, shoppings e a internet estavam longe de ser presentes na minha vida. Até hoje a cidade que eu cresci não tem isso, um cinema acabou abrindo em 2008 e um Bob's lá em 2010, e são os únicos de lá até hoje.
Em 2007 abriu uma lan house na minha cidade e meu Deus, como eu passava horas ali jogando no falido site fliperama, também descobri nessa época que havia um PS3 e ele era uma coisa de outro mundo pra mim (pra mim o PS2 era o mais moderno).
É bem doido pensar nisso, os anos são relativamente modernos, mas eu acabei tendo a vida de um garoto dos anos 90 sem querer.