Já lidei com duas pessoas muito diferentes em relação à suicídio, e eu tenho uma história diferente das duas.

Um tem um monte de problemas. Um monte mesmo. Desde depressão e ansiedade, até Borderline possivelmente. Mas isso tudo nem é o que faz viver ser tão difícil para ele: é a visão de mundo muito rígida, expectativas e cobranças muito altas de como as coisas e as pessoas deveriam ser e uma autovisão deturpada que alterna entre ser um lixo e ser o dono da verdade. Ele aprendeu em algum momento da vida dele que só vai ter atenção dos amigos dele se estiver querendo matar-se. É bastante vitimismo sim. Tentar ajudar ele é que nem drenar suas energias. Ele só vai se ajudar quando passar por experiências de vida que desengessem esses conceitos rígidos. Ele, apesar de ter um comportamento "típico" de suicida, não vai se matar. Ele quer viver. Só que a maneira com a qual ele faz isso o traz muito sofrimento. Ele vai acabar aprendendo em algum momento.

Já o outro nunca se fez de vítima. Apesar daquele niilismo improdutivo para justificar por que a vida não valia a pena e de ter chorado uma vez na minha frente quando eu perguntei o que estava sentindo, "ficar até o fim" não era uma opção. Quando eu tive a intuição que o plano dessa pessoa era concreto demais para ficar só nas palavras, mexi uns pauzinhos e indiquei ele para terapia e psiquiatra. A mudança é notável. A saúde mental dessa pessoa estava em crise. Agora, por mais que ainda não esteja 100%, já está mais estável. Nunca mais ouvi (sem ser uma piada tipo dank memes) em querer se matar. Essa pessoa tem planos agora, tem metas e objetivos.

Quem sabe o que sofreu para chegar nesse ponto? A tal "barriga cheia" para a gente é máscara social. Ninguém nunca sabe o que se passa na vida de uma pessoa. E quando sabe, ninguém sabe o que se passa na cabeça dela. Nem mesmo a própria pessoa. Parabéns por conseguir lidar com o que te mata por dentro dessa forma. Mas nem todo mundo consegue, sabe? E não adianta ter raiva dessas pessoas. É uma questão de empatia. Espero que fique bem.