Vou repetir o que muita gente já disse aqui, porque perceber isso foi o que me tirou da depressão: É preciso aprender a desfrutar da própria companhia. É preciso aprender a ficar sozinho.
Houve um tempo em que se eu ficasse sozinho e parado, sem nada para me entreter, já começava a pensar no quanto eu era um merda. Eu me dilacerava; achava defeitos em cada aspecto da minha personalidade e da minha aparência física. Não deixava nada passar: até repetia conversas na cabeça para rever meus fracassos sociais e já antecipar os fracassos futuros. Se percebesse alguém demonstrando uma mínima dose se felicidade genuína, já sentia uma inveja doentia e ficava pensando em como nunca teria aquilo e (o que é pior) em como nunca mereceria aquilo.
Naquela época, eu era meu pior inimigo. Estava profundamente insatisfeito com a pessoa que eu estava me tornando e cada vez que ficava sozinho partia em uma busca masoquista por mais motivos de insatisfação. Tanto pelo que não tinha, quanto pelo que não era.
Nunca falei sobre isso com ninguém. Deveria ter falado, na época, muita gente não dá conta de sair de situações assim por conta própria. Minha sorte foi ter começado a me interessar por filosofia.
Primeiro os estoicos: Sêneca, Marco Aurélio...
"Seja como o penhasco contra o qual as ondas se quebram, mas que permanece firme até que o mar se acalme a seus pés."
Foi um bom lugar para começar. A filosofia estoica me deu um alicerce, uma visão que me permitiu, logo de cara, isolar o mundo exterior que, na época, só me provocava angústias, e me voltar para o meu interior. Com o tempo, depois de cuidar das feridas, consegui superar essa visão de mundo, saindo do isolamento e rejeitando, pouco a pouco, a mentalidade eu vs o mundo em prol de uma aceitação maior da vida (me aproximando mais de Nietzsche).
Para mim, foi a filosofia. Para você, talvez seja um esporte, um idioma, uma graduação. Acho que o importante é encontrar alguma atividade que faça você sentir que está progredindo rumo a uma versão melhor de si mesmo, mas que também permita que você aprenda mais sobre si nesse processo. Não é só progredir: é perceber que está progredindo, perceber como está progredindo e também sentir prazer ao perceber isso.
Hoje, consigo ficar sentado por horas numa sala de espera sem sentir vontade de pegar o celular. Consigo me fazer feliz. Ficar comigo mesmo sem procurar defeitos, sem cair num ciclo vicioso de autoflagelo seguido de autopiedade, sem precisar fugir com minha atenção para os braços de formas vazias de entretenimento: isso é algo que não tem preço e que eu nunca achei que estivesse ao meu alcance.
PS: Não sou psicólogo, tudo que falo aqui é por experiência própria, então talvez não passe de um monte de bobagens para você. Por isso tenho que cumprir minha obrigação cívica de te recomendar procurar ajuda profissional.